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Observatório da Transumância

Observatório da Transumância

O “Observatório da Transumância”, criado pelo CE.DO com apoio do NUER  integra um dos objetivos do Projeto “kadila: Culturas e Ambientes”,  que vem sendo financiado pelo Programa CAPES-AULP (2015-2018). E entre seus objetivos o Observatório busca  estudar o fenômeno da transumância no Sudoeste de Angola.  A construção de um acervo de imagens, reflexões, depoimentos, textos e outros insumos visam propiciar um novo entendimento dos fenômenos migratórios existentes nesta região.

O estudo da mobilidade humana em Angola, além de pioneiro, busca contribuir para a compreensão dos fluxos migratórios que perpassam o  território nacional, bem como aqueles trânsitos e migrações que são compartilhados com os países limítrofes. Sabe-se que a noção de “problema migratório” tende a tornar opaca a multiplicidade desses fluxos, confundindo migrações históricas com aquelas que são concebidas geralmente como uma fonte de “desordem” social, pelo simples fato da mobilidade introduzir um tipo de fenômeno na agenda pública da segurança de Estados nacionais, algo tido como inusitado e visto por vezes como imprevisível. A ótica inter e multidisciplinar que caracteriza a o Projeto kadila, propõe conceber  e abordar a transumância como um fenômeno sócio-cultural, portanto, o seu entendimento condiz com a multiplicidade dos fluxos, vivências e as diversas modalidades de experiências migratórias em termos regionais,  que acontecem por motivações  as mais diversas, tais como, econômicas, ambientais, familiares, religiosas, linguísticas, e também denotam as suas expressões próprias que podem ser percebidas na literatura,  nas artes, perfazendo dimensões pessoais, grupais e comunais.

Escreve o professor Samuel Aço:

as populações potencialmente compreendidas neste fenómeno sobre o qual se pretende fazer uma observação e recolha científicas, deslocam-se e entrecruzam-se em territórios que antes estavam marcadamente identificados como espaços de uma única comunidade étnica. Contudo, actualmente certas áreas constituem uma amálgama de populações e culturas, não deixando no entanto, de se sentir a predominância de uma comunidade que lhe confere a identidade e mantém as suas estruturas próprias através das instituições do poder tradicional.

(Projeto “CRIAÇÃO DE UM OBSERVATÓRIO DA TRANSUMÂNCIA- MIGRAÇÕES DE PESSOAS E GADO NO SUDOESTE DE ANGOLA”- CE. DO, 2012.)

Equipe de estudantes de antropologia da UAN e os pastores do Namibe com o prof. Samuel Rodrigues Aço. Pesquisa de campo 2008. (Foto: Teresa Aço)
Equipe de estudantes de antropologia da UAN e os pastores do Namibe com o prof. Samuel Rodrigues Aço. Pesquisa de campo 2008. (Foto: Teresa Aço)

O Projeto do Observatório, concebido pelo prof. Aço tem como metas:

“fornecer dados passíveis de contribuir para uma acção local o mais informada possível. Este tipo de dados permitirá fornecer à administração local as bases para o trabalho de criação e melhoria das condições básicas de sobrevivência para estas populações transumantes, nomeadamente no que respeita o acesso à água, alimentação, assistência médica e medicamentosa. Por outro lado, contribuir para a concepção e estruturação de alternativas de provisão de serviços sociais itinerantes, como escolas, postos de saúde, etc. A um nível mais abrangente, poderá contribuir para uma melhor delimitação e distribuição do trabalho de concessão e exploração de terras para outros tipos de actividades socioeconómicas na região.

(Projeto “CRIAÇÃO DE UM OBSERVATÓRIO DA TRANSUMÂNCIA- MIGRAÇÕES DE PESSOAS E GADO NO SUDOESTE DE ANGOLA”- Ce. Do, 2012.)

Pastoreio no Mwhvú
Pastoreio no Mwhvú

Encontramos algumas definições do fenômeno da transumância em outros lugares do mundo, como o do Mediterrâneo, citado no fragmento de ilustração a seguir:

Desta forma, o Projeto Kadila, almeja colaborar com o Ce.Do na construção de conhecimentos capazes de repensar as categorias de divisão territorial que foram elaboradas no âmbito das políticas colonialistas dos séculos XIX e XX e no modo como a Angola contemporânea tem repensado tais noções territoriais em sua diversidade étnica. Justifica-se esse procedimento uma vez que por vezes as políticas de manejo de populações podem  frequentemente  agir movidas ou como depositárias de visões estáticas que localizam e situam o “nativo” sem contemplar os usos e significados conferidos aos seus territórios, ambientes e deslocamentos habituais.

Atividades de pastoreio no deserto de Namibe (Fotos: Ilka B. Leite)
Atividades de pastoreio no deserto de Namibe (Fotos: Ilka B. Leite)

Como nos ensina Ruy Duarte de Carvalho:

“É através do boi que um Mucubal cresce, casa, faz filhos, prospera e come e bebe, e dança e sofre e chora e dá sentido à vida.”